quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O início de uma nova fase...

Era um dia ensolarado de inverno na cidade do Rio de janeiro. As pessoas caminhavam apressadas para seus destinos. Vez ou outra alguém olhava em sua direção e, ele novamente sentia-se vivo.
Algumas vezes, imaginava-se exposto na vitrine de uma loja de animais: Todos apontavam para ele, cochichavam algo e saiam apressados para seu destino imediatamente após o comentário.
Sem que ninguém notasse, uma sensação de impotência ante o fim próximo e cruel se apoderava de sua alma. Ele não podia se permitir o luxo de transparecer tamanha insegurança e, por isso, permanecia imóvel, impassível, com o olhar impenetrável como uma verdadeira fortaleza.
À medida que o dia passava o tempo mudava, como que compartilhando da agonia de sua alma. O Sol escondeu-se atrás de pesadas nuvens de tempestade e, ao longe se podia ouvir os trovões a marcar o balé de raios.
Muitos do que passavam por ele não faziam idéia de sua idade e, isso o punha a relembrar. Nasceu em abril de 1891, filho de Rodolfo Dantas, que planeja para ele um futuro onde ele seria apenas alguém que defenderia o regime deposto (monarquia).
Até o dia de hoje, passou por tantas coisas e conheceu tantas pessoas que era quase impossível enumerá-las, entretanto, de algumas pessoas e determinadas ocasiões, lembrava com carinho e pesar. Afinal, como esquecer amigos como Eça de Queiroz, José Veríssimo, Joaquim Nabuco, entre outros tantos? Como deixar pra trás todas as notícias tristes e atrocidades ocorridas durante as duas guerras pelas quais passou ileso?
Mesmo que tentasse, não conseguia deixar pelo caminho as mágoas de ter sido caçado por Floriano Peixoto, 1893. E não sabia onde esconder a vergonha de ter apoiado o Golpe Militar de 1964, que o submeteu autocensura, que perdurou até 1972.
Conforme o tempo passava, foi se tonando cada vez mais importante e, em 2005 mudou-se para a Casa do Bispo, imóvel tradicional do RJ. Em 2006 inovou, trazendo tendências européias ao Brasil, na área em que atuava.
Mas nada disso bastava e, com o fim iminente, sentia-se alguém sem importância, quase invisível para as pessoas tão apressadas que passavam por ele e o olhavam como um pedaço de papel em branco.
Estava tentando se acostumar ao fim cruel do esquecimento, se convencer que aquilo não era o fim, mas o começo de uma nova era. Mas era trágico que alguém com tanta história terminasse assim, na sarjeta jogado numa poça d’água qualquer.
Quando não restavam mais esperanças, resolveu deixar-se molhar pela chuva sagrada, que selaria seu fim, alguém veio correndo em sua direção, agarrou-o e saiu em direção a um abrigo da chuva. O jovem rapaz usava-o como anteparo para as grossas gotas que caíam do céu.
Naquele momento, ele entendeu o significado de “vida após a morte” e, percebeu que o fim nada mais era que um novo começo. Sentiu-se útil novamente e, era o ser mais feliz do universo naquele instante.
Nada poderia destruir sua felicidade ou, diminuir sua sensação de dever cumprido. Desde que saíra da gráfica na madrugada daquele dia, escutou de todos que ao final do dia ele não seria nada alem de um pedaço de jornal velho. Ouviu que as pessoas o usariam e jogariam num canto e, que ser a última edição impressa de um dos jornais de maior circulação e importância no Rio de Janeiro nada significava: ao final do dia estaria esquecido.
No momento que tornou-se indispensável a alguém, mesmo que por um período curto, entendeu que, como disse certa vez Shakespeare: “Existe mais coisas no céu e na Terra, Horácio, que a tua filosofia jamais sonhou.”. Assim, encheu-se de orgulho e decidiu que a era virtual que começava naquele sombrio dia 31/08/2010 não seria seu fim, mas o começo de uma nova fase de sua existência.
O rapaz que o recolheu da sarjeta chegou ao abrigo e, como que respeitando sua grandiosidade, o esticou para secar e, sorrindo partiu. Podia jurar que ouviu aquele pedaço de papel agradecer e falar para acessar sua página on line. Mas estaria ficando louco se isso fosse verdade.
Assim, sentou-se no banco onde colocou o jornal para secar, abriu sua mochila e, decidiu que precisava saber como andava o trânsito e as enchentes na cidade antes de sair dali. Assim, pegou o laptop e, com auxilio da internet 3G acessou o seu site favorito de notícias, sem nem imaginar que aquele pedaço de papel molhado atrás dele era uma parte muito importante da história desse periódico em que ele tanto confiava. Assim, quando acabou de digitar “jb.digitalpages.com.br” ele apertou “ENTER” e entrou no mundo mágico da leitura.

By me.

Em homenagem tardia a um excelente jornal, que fez parte do dia a dia de milhares de pessoas e, que continuará a fazer mas em versão on line.
O assustador é pensar que esse foi só mais um jornal que deixou de ser impresso no mundo e, que de certa forma a era digital contribui para o atraso da economia, quando levamos em consideração as centenas de pessoas que trabalhavam nas gráficas e entrega desses jornais e, que estão agora desempregadas...
De quaquer forma, achei que valia o texto so bre esse fim de versão impressa que foi tão pouco falado, em meio a tantas notícias sobre eleições, crises políticas e problemas de segurança que estamos vivendo atualmente no Rio de Janeiro.
Espero que goste,... ;)

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