segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Fragmento

Uma tarde de primavera como outra qualquer. A vida estava difícil e ele não fazia idéia de o que fazer para apaziguar seus sentimentos. Tinha medo de tudo que poderia acontecer caso ele cedesse a idéia estapafúrdia de largar tudo e sumir... Resolveu encarar o dia sufocante de trabalho com seu costumeiro sorriso e suas palavras gentis, que por vezes escondiam o dragão que vivia em seu mais profundo âmago.... Tudo parecia conspirar contra sua vontade, apesar do que aquele escritor de sua infância insistia em dizer: "quando se quer algo de verdade todo o universo conspira a favor". Começou a questionar sua sanidade mental... A física, ele sabia há tempos, estava comprometida. Chegou a conclusão que se ainda não rasgava dinheiro entre um maço de cigarros e outro estava em plenas faculdades mentais. Teve uma manha difícil e achou que nada poderia piorar seu dia... Como poucos dias em sua vida, estava redondamente enganado e o que veio ao final da tarde transformou aquele dia em algo digno do limbo do esquecimento... Pra sempre... Esgotado, derrotado, triste, decepcionado com ele mesmo e com todos que o cercavam ele resolveu sair e caminhar. Chegou a orla mais rápido que esperava e o contato com a areia e o mar recarregou suas energias. Olhou o vai e vem das ondas, sentiu o agradável cheiro de maresia, sentiu alegre a brisa costeira tocar seu rosto. A perda recente tocou seu peito e ali, longe de tudo e todos fez algo que não se permitia desde quando deixara de acreditar no papai Noel: chorou copiosamente. O mar, sempre seu companheiro parecia querer abafar o som de suas lamurias e as ondas pareceram quebrar mais perto dele. Após o que pareceu uma eternidade naquele fundo de poço que ele chamava depressão, decidiu levantar a cabeça e enfrentar o que estivesse por vir... Estufou o peito, fez um pequeno percurso correndo na areia para se preparar para o porvir. Mergulhou e as águas escuras do mar frio naquela noite levaram toda sua treva para um local longínquo e profundo, onde ele jamais as veria ou sentiria novamente. Saiu dali renovado. E chegou a mesma conclusão que chegava todas as vezes que a vida tentava sabotá-lo: as pessoas são cruéis, egoístas, vis. Mas não importa o que o mundo te oferece e sim o que você quer tirar dele... Só porque as pessoas não te ofertam aquilo que você considera o melhor, não significa que não estejam te oferecendo o melhor que possuem. Então, independente do que viria e do que devia enfrentar ele resolveu ser o mais doce e amável possível. O mundo podia não merecer nenhuma gentileza, mas ele certamente não merecia mudar seus valores por isso... Levantou-se, entrou no carcome seguiu em direção ao quarto de hotel onde estava hospedado. Tomou um banho bem quente e deitou na cama. Foi uma noite sem sonhos...